UBES- União
Brasileira dos Estudantes
Secundaristas
Mais de 50
anos depois do golpe militar que retirou a democracia e direitos humanos no
Brasil, ainda há muito desconhecimento sobre este período da História
Centenas
de comentários em uma publicação da UBES no Facebook, no dia 31 de
março, mostraram como a população brasileira ainda caminha para superar de fato
este triste capítulo. Explicamos aqui alguns dos erros mais comuns ao se falar
sobre o regime militar que durou de 1964 a 1985.
“Quem
era trabalhador não teve problema”
Segundo relatório da Comissão da
Verdade, entre as centenas de pessoas mortas estavam estudantes que protestavam
contra alimentos caros, padres que conheciam esquerdistas e até militares que
discordavam das torturas.
Para ser censurado, perseguido,
torturado e morto pela repressão do regime militar, bastava contestar o
governo, independente da linha ideológica. Na verdade, bastava o governo pensar
que a pessoa contestava, mesmo sem provas. Ou pensar que a pessoa conhecia
alguém que contestasse.
É como se ninguém pudesse
criticar o governo Dilma quando ela estava na presidência, por exemplo. E nem
mesmo conversar com quem criticasse. Se você acha bacana lutar pelo seu país
dizendo o que pensa nas ruas, saiba: naquela época não podia.
Comentário
no perfil da UBES no Facebook: “Comemorar ditadura na democracia é fácil. Quero
ver pedir democracia na ditadura.”
2. Não tinha corrupção
“Pelo menos os militares tinham ética”
“Pelo menos os militares tinham ética”
Quem disse foi o próprio general Estevão Taurino de Rezende, o militar responsável pela Comissão Gerais de Investigações (CGI): “O problema do comunismo perde expressão diante do problema da corrupção administrativa”.
Entre 1964 e 1986 havia
corrupção, o que não tinha eram conselhos fiscalizatórios fora do controle dos
militares nem acompanhamento do Congresso, até porque o Congresso foi
dissolvido em 1968. Era tudo acobertado.
Alguns casos que poderiam ter
virado “escândalos”, se a política e o jornalismo fossem permitidos: Caso
Halles, Caso BUC, Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume,
Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla, Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso
Delfin, Caso TAA.
Os gastos estratosféricos em
“obras faraônicas”, como a hidrelétrica de Itaipu e a rodovia Transamazônica,
nunca foram investigados.
Leia mais
sobre isso: no livro Ditadura Envergonhada,
de Elio Gaspari (2002)
3. A educação pública era melhor
3. A educação pública era melhor
Pelo contrário. O governo
militar reduziu drasticamente os investimentos em Educação e liberou a venda de
ensino por instituições privadas. Foi a partir daí que o ensino público perdeu
qualidade e a classe média passou a pagar pelo serviço em escolas particulares.
A Emenda Constitucional número 1
desobrigou o Estado a gastar um mínimo de 12% com a área. O percentual caiu de
7,6%, em 1970, para 4,31% em 1975 e ficou5% em1978.
Essa emenda de 1969 também
incentivou o ensino pago: “O ensino é livre à iniciativa particular, a qual
merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos, inclusive mediante
bolsas de estudos”.
Isso tudo
sem entrar no mérito da qualidade do ensino. Os conteúdos que ensinam
pensamento crítico, como sociologia e filosofia, foram trocados por matérias
institucionais, como Educação Moral e Cívica. O método de alfabetização do
Paulo Freire, que estava tendo aplicação ampliada, foi trocado pelo Mobral, que falhou no objetivo de erradicar o anafalbetismo
até 1984. Além disso, bilhões de reais foram gastos no projeto.
Podia-se andar tranquilo desde
que se fosse branco, rico e estivesse em bairros nobres. A Polícia Militar,
criada neste período, passou a ficar livre para punir pobres trabalhadores sem
provas. Sem falar nos grupos de extermínio, que atuavam com liberdade para
torturar e matar qualquer um que considerassem suspeitos.
A prática
de “segurança” da época cometeu alguns crimes contra a humanidade como recolher
menores abandonados em um ônibus e despejá-los nus no meio da estrada de madrugada.
5. Na ditadura o Brasil desenvolveu a
economia
Depende para quem. Com o “milagre econômico”, o PIB brasileiro chegou a crescer 10% por ano. Mas essa realidade não bateu na porta dos trabalhadores.
No auge do crescimento, em 1974, um
salário mínimo tinha menos poder de compra do que em 1960.
Em
1980, os 10% mais ricos acumulavam metade da riqueza do País, enquanto os
10% mais pobres ficavam só com 12% de toda a riqueza nacional. Essa conta
piorou em relação a 1960, quando os mais ricos tinham 38% e, os mais pobres,
18%. Quer dizer, foi o período que mais aumentou o fosso entre pobres e ricos.
Leia mais sobre issohttp://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/relatorio/tomo-i/parte-i-cap2.html
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